Noite alta, sombrosa e fria, e mesmo assim,
desponta, em meio às beladonas do jardim,
saudado pelos flexeis galhos ao açoite
do vento, o mesmo vulto, como da outra noite.

O amante a espera, silencioso, no relvado,
a quem se entrega, sem palavras nem sorriso,
naturalmente nus, como no Paraíso,
Adão e Eva foram, antes do pecado.

Assim termina, sem calor nem despedida,
a estranha cena, pois no início e na partida
não há suspiros, nem meiguices, nem querelas.

E ao retirar-se vai deixando, de si mesma,
prateado, alvo rastro, refletindo estrelas,
serena, lenta e triste a incompreendida lesma.

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