tdah 
Introdução

O TDAH (DDA) não é um distúrbio passageiro, temporário, a ser superado, uma vez que é neurobiológico e não o resultado de falta de disciplina ou de controle dos pais, assim como não é falta de força de vontade ou de caráter da criança ou do adolescente como erroneamente muitos adultos pensam ser. A recuperação acontece em cerca apenas 30% dos casos. Algumas crianças com TDAH (DDA) já são difíceis de serem cuidadas antes mesmo dos 3 anos de idade por serem muito ativas, irritáveis, temperamentais, autoritárias, podendo ainda ter distúrbio de sono e/ou alimentar. Outras crianças com TDAH (DDA) não diferem das demais e só são avaliadas e diagnosticadas após o ingresso no período escolar ao apresentar prejuízo no aprendizado e/ou nos relacionamentos com colegas, professores ou pais. Isso porque os 3 sintomas mais marcantes do TDAH (DDA) – a distração, a impulsividade e a grande atividade, num grau mais leve, são comuns nas crianças em geral, daí muitas ficarem sem diagnóstico. Também as do Tipo Desatento podem passar despercebidas nos primeiros anos de vida. Além de distraídos, a criança ou adolescente com TDAH (DDA) tem enorme dificuldade em sustentar a atenção durante muito tempo numa mesma tarefa, sem interrompê-la por inúmeras vezes. Porém, quando motivados ou desafiados por situações inovadoras (televisão, vídeo-game, salas de bate-papo etc…), eles têm um poder de hiperconcentração, nem se dando conta do que acontece à sua volta. Os hiperativos/impulsivos são incapazes de planejar, selecionar com antecedência, para depois executar algo. Eles não conseguem controlar, inibir seus impulsos: dificilmente ficam quietos num lugar por muito tempo, podem ser muito falantes, falar sem pensar, sendo muitas vezes inconvenientes, interromper a fala dos outros, jogos, responder a questões antes de serem totalmente formuladas, comer muito, comprar muito etc. Essa falta de autocontrole pode ser o terror de muitos pais e/ou professores, que sentem-se incapazes de colocar limites, caso não conheçam o transtorno e como lidar com ele. Geralmente são desorganizados com seu material escolar, sua mochila, sua mesa, gavetas e principalmente com o planejamento de suas tarefas, estudos, empurrando-os sempre para a última hora (isso quando não deixam de fazê-los). Estão sempre atrasados, lutando contra o tempo. Problemas de memória são freqüentes: esquecem nomes, datas de trabalhos, provas, perdem ou esquecem objetos com facilidade. Como conseqüência vem a preocupação e ansiedade crônicas, por não se sentirem confiáveis. Também têm muita dificuldade em notar, interpretar dicas e regras sociais: sempre querem fazer tudo “do seu jeito, no seu tempo”. Isso explica muitas vezes a dificuldade de viver adequadamente em sociedade, seus desencontros nos relacionamentos sociais e pessoais. A criança ou adolescente com TDAH (DDA) não sabe lidar com o fracasso e a frustração. Estão sempre ansiosos, sentem-se incompreendidos e irritam-se com facilidade. Com a auto-estima fragilizada por tantos rótulos negativos já recebidos, com freqüência “chutam o pau da barraca”, por serem super reativos e por acharem que já não têm muito a perder. O transtorno gera uma real incapacidade na criança ou no adolescente de controlar sua própria vontade ou comportamento, relacionando-os com a passagem do tempo: muitos são incapazes de ter em mente futuros objetivos e/ou medir as conseqüências negativas de seus atos impulsivos a longo prazo. O TDAH (DDA) muitas vezes é erroneamente apresentado como distúrbio de aprendizagem, mas na verdade é um distúrbio de realização. Crianças ou adolescentes com TDAH (DDA) sentem-se muito melhor quando, após serem diagnosticados, fazem um tratamento focado, onde os seus problemas e dificuldades são trabalhados e suas qualidades são realçadas e alimentadas, visando sempre a melhoria de sua auto-estima, nunca esquecendo dos limites a serem respeitados. Afinal, geralmente são inteligentes, sensíveis, curiosos, criativos, atrevidos, inventivos, com muita energia, espontaneidade etc., com necessidade de uma “condução” adequada.

O que é TDAH (DDA)

Nos portadores de Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) ou Distúrbio de Défict de Atenção (DDA) os neuro-transmissores, dopamina e noradrenalina (substâncias químicas do cérebro que transmitem informações entre as células nervosas) encontram-se diminuídos, fazendo com que a atividade do córtex pré-frontal seja menor. É uma disfunção neurobiológica. Essa região é a parte mais evoluída do cérebro e supervisiona as funções executivas: observa, guia, direciona e/ou inibe o comportamento, organiza, planeja e faz a manutenção da atenção e do auto-controle. Essa disfunção é crônica, herdada na grande maioria das vezes, daí sua presença desde a infância. Em menor grau há fatores do meio ambiente que podem estar relacionados ao TDAH (DDA): a nicotina de cigarros fumados pela mãe gestante bem como bebidas alcoólicas consumidas, podem ser causas significativas de anormalidades no desenvolvimento da região frontal do cérebro da criança em gestação; crianças expostas ao chumbo entre 12 e 36 meses de idade pode ser outro fator; traumatismos neonatais como hipoxia (privação de oxigênio), traumas obstétricos, rubéola intra-uterino, encefalite, meningite pós-natal, subnutrição e traumatismo craniano são fatores que também podem contribuir para o surgimento do distúrbio. O TDAH (DDA) é um transtorno real, um obstáculo real, apesar de não haver nenhum sinal exterior de que algo está errado com o Sistema Nervoso Central. Antigamente era conhecida como “Disfunção Cerebral Mínima”. Mais tarde passou a chamar-se “Síndrome Infantil da Hiperatividade”. Nos anos 70, o conceito foi ampliado com o reconhecimento do déficit na atenção e do controle dos impulsos. Em 1987 o nome passou a ter a atual denominação: “Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade”. Ao contrário do que se pensava antigamente, o TDAH (DDA) não é superado na adolescência: cerca de 65% das crianças diagnosticadas como portadoras de TDAH continua com os sintomas quando atinge a idade adulta. Os principais sintomas são: falta de atenção, impulsividade e hiperatividade ou uma “energia nervosa”. A impulsividade tem um aspecto positivo, podendo nos levar muitas vezes à ação. O problema é quando ela se torna patológica como no caso do TDAH (DDA), onde há uma falta de planejamento em função da busca intensa e constante da gratificação imediata, das novidades, correndo-se maiores riscos. Provocar confusão, discutir, viver em conflito consigo e/ou com o(s) outro(s) é uma forma inconsciente de estimulação do córtex pré-frontal, que anseia por mais atividade. A pessoa não percebe esse processo, não o faz de propósito, mas pode ficar viciada em confusão.

Tipos de TDAH

Tipo Desatento Desvia facilmente a atenção do que está fazendo e comete erros por prestar pouca atenção a detalhes. Muitas vezes distrai-se com seus próprios devaneios ou então um simples estímulo externo o tira do que está fazendo. Dificuldade de concentração em palestras, aulas, leitura de livros… (dificilmente termina um livro a não ser que o interesse muito). Às vezes parece não ouvir quando o chamam (muitas vezes é interpretado como egoísta, desinteressado…). Durante uma conversa pode distrair-se e prestar atenção em outras coisas, principalmente quando está em grupos. Às vezes capta apenas partes do assunto, outras, enquanto “ouve” já está pensando em outra coisa e interrompe a fala do outro. Relutância em iniciar tarefas que exijam longo esforço mental. Dificuldade em seguir instruções, em iniciar, completar e só então, mudar de tarefa (muitas vezes é visto como irresponsável). Dificuldade em organizar-se com objetos (mesa, gavetas, arquivos, papéis…) e com o planejamento do tempo (costuma achar que o dia tem 48h). Problemas de memória a curto prazo: perde ou esquece objetos, nomes, prazos, datas… Durante uma fala, pode ocorrer um “branco” e a pessoa esquecer o que ia dizer. Obs.: É necessário que a pessoa tenha 6 ou mais características de forma crônica, e acompanhamento médico mínimo de 6 meses para haver possibilidade de diagnóstico. Tipo Hiperativo/Impulsivo Inquietação – mexe as mãos e/ou os pés quando sentado, musculatura tensa, com dificuldade em ficar parado num lugar por muito tempo. Costuma ser o “dono” do controle remoto. Faz várias coisas ao mesmo tempo, está sempre a mil por hora, em busca de novidades e de estímulos fortes. Detesta o tédio. Consegue ler, assistir televisão e ouvir música ao mesmo tempo. Muitas vezes é visto como imaturo, insaciável. Pode falar, comer, comprar… compulsivamente e/ou sobrecarregar-se no trabalho. Muitos acabam estressados, ansiosos e impacientes: são os workaholics. Tendência ao vício: álcool, drogas, jogos, Internet e salas de bate papo. Interrompe a fala do(s) outro(s) e sua impaciência faz com que responda perguntas antes mesmo de serem concluídas. Costuma ser prolixo ao falar, perde sua objetividade em mil detalhes, sem perceber como se comunica. No entanto, não tem a menor paciência em ouvir alguém como ele, sem se dar conta que é igual. Baixo nível de tolerância: não sabe lidar com frustrações, com erros (nem os seus, nem dos outros). Muitas vezes sente raiva e se recolhe. Impaciência: não suporta esperar ou aguardar por algo: filas, telefonemas, atendimento em lojas, restaurantes… quer tudo para “ontem”. Instabilidade de humor: ora está ótimo, ora está péssimo, sem que precise de motivo sério para isso. Os fatores podem ser externos ou internos, uma vez que costuma estar em eterno conflito. Dificuldade em expressar-se: muitas vezes as palavras e a fala não acompanham a velocidade da sua mente. Muitos, quando estão em grupo, falam sem parar sem se dar conta que outras pessoas gostariam de emitir opiniões, fazer colocações, e o que deveria ser um diálogo transforma-se num monólogo que só interessa a quem está falando. A comunicação costuma ser compulsiva, sem filtro para inibir respostas inadequadas, o que pode provocar situações constrangedoras e/ou ofensivas: fala ou faz e depois pensa. Tem um temperamento explosivo: não suporta críticas, provocações e/ou rejeição. Dificuldade em seguir regras ou normas pré estabelecidas. Daí a grande importância na escolha da profissão. O ideal é que o indivíduo trabalhe com criatividade e que tenha certa liberdade de fazer “tudo do seu jeito, no seu tempo”, desde que crie uma estrutura para mantê-lo em seu objetivo. Dificilmente conseguirá sucesso num trabalho burocrático, rotineiro ou repetitivo. Rompe com certa facilidade relacionamentos de trabalho, sociais e/ou afetivos. Pode mudar inesperadamente de planos, metas… Hipersensibilidade: pode melindrar-se facilmente, tendo uma tendência ao desespero, como se seu mundo fosse desmoronar a qualquer instante, incapacitando-o muitas vezes de ver a realidade como ela realmente é, e buscar soluções.

Obs.: É necessário que a pessoa tenha 6 ou mais características de forma crônica, com  acompanhamento médico de 6 meses para haver possibilidade de diagnóstico.

Tipo Combinado É necessário que a pessoa tenha 6 ou mais características de cada um dos tipos, de forma crônica e desde criança para haver possibilidade de diagnóstico de TDAH (DDA).

Conseqüências

Esses sintomas costumam trazer grandes prejuízos na vida da pessoa, principalmente quando ela não sabe que tem TDAH (DDA): Costuma sentir-se um ET, diferente dos outros, com baixa auto-estima, sensação de incapacidade, insegurança… Desde criança pode ter recebido muitas criticas, ter sido rotulado de maneira destrutiva (burro, preguiçoso, vagabundo, pestinha, capeta…) e provavelmente teve seu rendimento escolar prejudicado, bem como seus relacionamentos sociais e afetivos. São pessoas muito ativas e sem tempo a perder: estão sempre correndo e ou atrasadas em função de tocarem vários projetos simultaneamente. Muitos são vistos como imaturos e insaciáveis. Paradoxalmente a toda essa energia, muitas vezes o adulto com TDAH (DDA) mostra-se apático, desanimado com dificuldade para iniciar tarefas. É como se já desistisse antes de começar, fazendo-o “empurrar com a barriga” seus projetos. Muitas vezes precisa de estímulo externo, de um “empurrãozinho” de fora e, quando os começa, tem dificuldade em terminá-los. É comum interromper o que está fazendo para ir fazer algo para onde foi sua atenção. Não consegue atingir suas metas profissionais, tendo geralmente um rendimento abaixo do seu potencial: demora no início das tarefas, dos projetos, perde-se nos devaneios, interrompendo-os com facilidade. Pode ser muito prejudicado pela sua desorganização como, por exemplo, perder anotações importantes na “bagunça” de sua mesa, gavetas… A desorganização também passa a ser interna, na medida que a pessoa não sabe a qual dos “tenho que” atender em primeiro lugar e a cabeça fica “remoendo” num eterno conflito, ansiedade e preocupação crônicas. Está sempre em estado de alerta, muitas vezes não se sente confiável, preocupado com coisas que estão por fazer ou que não deram certo e com isso, tira a atenção do que está fazendo no momento. O eterno conflito consigo, ou com o(s) outro(s) é uma forma inconsciente de estimulação do córtex pré-frontal. Seu humor geralmente é imprevisível, muito instável, com altos e baixos repentinos, sem qualquer razão séria aparente. Costuma ser muito impaciente, irritadiço e “pavio curto” com uma tendência a isolar-se ao defender bravamente sua liberdade, seu jeito de ser. Esse tipo peculiar do indivíduo com TDAH (DDA) comportar-se, dificulta muito seu convívio social, afetivo e profissional. Se não é devidamente diagnosticado e tratado, fica muito difícil conviver com ele, minando cada vez mais sua auto-estima, sua confiança no futuro e no mundo. Apesar de ser inteligente, criativo e intuitivo, a incapacidade de “viver adequadamente”, pode levá-lo a grandes depressões, daí a grande importância do diagnóstico e tratamento.

Comorbidades

A presença de comorbidades (outros distúrbios psiquiátricos associados) piora muito o prognóstico do TDAH (DDA). Em crianças com TDAH (DDA), mais de 50% dos casos tem comorbidades. Em adultos com TDAH (DDA), 70% dos casos tem comorbidades e destes, 97% tem aproximadamente 4 comorbidades. Comorbidades que podem estar associadas ao TDAH (DDA): – TDAH (DDA) com Depressão É freqüente o TDAH (DDA) vir acompanhado de depressão, dada a incapacidade da pessoa viver “adequadamente”. Sua auto-estima geralmente é muito baixa em função de críticas, repreensões, castigos, piadas e comentários negativos com relação ao seu comportamento desde a infância. Há também uma auto-depreciação em função da dificuldade que tem em organizar-se, prestar atenção, iniciar e terminar suas tarefas, dos erros que acontecem pela falta de atenção e impulsividade, das gafes que comete… Tudo isso pode levar ao cansaço extremo, à exaustão, a ponto da pessoa querer desistir, achando que a “batalha” é grande demais para ela. Há também uma condição genética biológica da depressão relacionada ao TDAH (DDA). Muitas vezes a depressão mascara o diagnóstico do TDAH (DDA). – TDAH (DDA) com Ansiedade Generalizada Preocupação interminável, crônica e ruminante. Esse item é o que mais estressa o indivíduo, sem que ele possa relaxar nunca: “- O que foi que esqueci? Por quê fiz isso? Será que vai dar errado novamente? Como vou dar conta de tudo que tenho para fazer?”. Essas preocupações podem ter fundamento em função do seu comportamento, mas há também uma preocupação persistente, obsessiva, como meio de se organizar, de concentrar-se, numa tentativa de evitar a desorganização, o caos. – TDAH (DDA) com Distúrbio de Linguagem Em diferentes intensidades, os distúrbios de linguagem que costumam aparecer na infância podem acompanhar o adulto, dificultando sua vida profissional e seu convívio social. São eles: Dislexia (dificuldade com a leitura ou escrita) Disgrafia (dificuldade com a escrita) Disfasia (dificuldade com a fala) Pode acontecer dificuldade em expressar-se (a fala não consegue acompanhar a velocidade da mente, “come palavras” ou aparecem os “brancos”, dificultando a comunicação, pois tanto a linguagem oral como a escrita requerem planejamento de seqüências de palavras, frases, parágrafos etc.). O processamento auditivo do TDAH (DDA) prejudica a compreensão do que lhe é dito, dificultando o aprendizado, a vida acadêmica e social. Dificuldade na escrita pela falta de coordenação motora e impulsividade (geralmente a letra de quem tem TDAH (DDA) não é lá essas coisas!), podendo também ocorrer omissões ou substituições de palavras, falta de acentuação e pontuação adequadas. A atenção e a memória (precárias em quem tem TDAH (DDA)), são fundamentais para que se adquira habilidades de compreensão e de formulação da linguagem adequada. Se você tem Dislexia, tem maior probabilidade de ter TDAH (DDA). Se você tem TDAH (DDA), não tem maior probabilidade em ter Dislexia. – TDAH (DDA) com Transtorno Bipolar O TDAH (DDA) pode às vezes ser confundido com o transtorno maníaco-depressivo. Nos dois casos há alterações de humor: o indivíduo vai da excitação à depressão. No TDAH (DDA), a agitação presente na hiperatividade, a desatenção (inclusive com o perigo), a impulsividade… podem parecer-se com o estado de mania do Bipolar, mas o que difere é a intensidade: o maníaco pode passar dias sem dormir, pode gastar suas economias e até mesmo o que não tem, coloca-se em projetos de risco, perde a noção de perigo, falando sem parar, num discurso ilógico, saltando de uma idéia para a outra, podendo irritar-se e tornar-se agressivo. Quando cai em depressão, ela é profunda, “apagando-o” totalmente. O indivíduo com TDAH (DDA) pode ser cheio de energia, irriquieto, mas nada comparado ao maníaco. A depressão associada ao TDAH (DDA) também não é tão profunda como no caso do Bipolar. Quando a comorbidade do Bipolar se soma ao TDAH (DDA), os sintomas maníaco depressivos tendem a se intensificar. – TDAH (DDA) com Uso de Substâncias As pessoas com TDAH (DDA) têm maior tendência em abusar de drogas. O índice pode chegar a 50%. No caso do tratamento de dependentes químicos, é fundamental investigar se há diagnóstico de TDAH (DDA). A pessoa pode utilizar-se do álcool, da maconha e de tranqüilizantes como forma de anestesiar seus pensamentos negativos, sua depressão, sua agitação e sua ansiedade crônica. É um comportamento que leva à gratificação imediata. A curto prazo podem até funcionar como alívio porque a gratificação imprevisível libera mais dopamina, mas o uso crônico leva à depressão, à desmotivação total, e a desorganização toma conta da pessoa. Pode usar anfetamina, cafeína e cocaína, como instrumento de concentração, de clareza mental. A cocaína é também um estimulante como a Ritalina, uma das medicações mais usadas no TDAH (DDA), daí a auto-medicação de forma equivocada e perigosa pode transformar o que no início parecia alívio e solução, num caminho sem volta. Segundo Wendy Richardson, automedicar-se com álcool e outras drogas é como apagar fogo com gasolina. – TDAH (DDA) com Transtorno Alimentar A compulsão presente no TDAH (DDA) pode ser por comer, podendo levá-lo ao Transtorno do Comer Compulsivo. Muitas vezes a inquietação leva a pessoa a “beliscar” o dia inteiro. Quando a quantidade de comida aumenta, o comer pode virar uma compulsão e a pessoa come, estando ou não com fome, torna-se obesa, sobrecarregando seu sistema digestivo e gastrintestinal. Com a auto-estima ainda mais comprometida pela aparência física, é comum a pessoa procurar ajuda de médicos endocrinologistas em busca de regime. É importantíssimo que esses profissionais conheçam o que é TDAH (DDA) para que saibam quando a origem da compulsão vem ou não do TDAH (DDA). Se a rejeição pelo corpo for muito grande, pode ocorrer em alguns casos a Bulimia. – TDAH (DDA) com Transtorno de Personalidade Anti-Social Adultos com TDAH (DDA) (geralmente homens muito impulsivos) podem cometer quatro vezes mais agressões físicas a outras pessoas comparando-se com quem não tem TDAH (DDA). Alguns estão em prisões ou hospitais psiquiátricos com diagnósticos errôneos de distúrbio anti-social, os sociopatas* ou psicopatas**. Caso o adulto tenha uma história clara de TDAH (DDA) na infância, o diagnóstico pode estar incorreto, e ele responder bem ao tratamento de TDAH (DDA). O padrão de comportamento anti-social inicia-se na adolescência, com o Transtorno Desafiador Opositor. Conforme chegam à idade adulta, podem mudar de emprego com facilidade e terão maior possibilidade de serem mandados embora em função de seu comportamento, da falta de disciplina e de autocontrole sobre seus impulsos. Sua capacidade de trabalho pode ficar comprometida no que diz respeito à pontualidade, prazos, supervisão, produtividade, capacidade de cumprir as funções que lhe são designadas… A agressividade e violência do TDAH (DDA) deve-se à frustração, à intolerância, à impaciência, à impulsividade e ao grau do transtorno, não à psicose. Com o diagnóstico correto e tratamento adequado, a qualidade de vida dessas pessoas pode melhorar muito. *Sociopatas – infringem as leis, desafiam, enganam, mentem, trapaceiam, agridem e roubam, sem o menor remorso. **Psicopatas – têm alucinações visuais, auditivas, sensação de desconfiança, de estar sendo observado, perseguido, provocado, traído,… são agitados, confusos, agressivos, gostam de isolar-se, têm pensamento bloqueado e desleixo com a aparência e higiene. – TDAH (DDA) com Transtorno de Sono O Distúrbio do Sono afeta a qualidade e quantidade do sono de uma pessoa, gerando a chamada fadiga diurna crônica. A turbulência mental do indivíduo com TDAH (DDA) faz com ele tenha grande dificuldade em relaxar e dormir. E quando finalmente adormece, raramente consegue fazê-lo de maneira profunda. É comum o acordar cansado, como se quase não tivesse dormido. Alguns dormem em excesso, em função de desânimo, desmotivação e/ou depressão, o que não significa descansar bem. Para quem tem TDAH (DDA), é vital o diagnóstico e tratamento desse distúrbio porque ele aumenta a desatenção, a inquietação, a irritabilidade e o cansaço. O desempenho profissional, pessoal, bem como a saúde física e mental são afetados, uma vez que é durante o sono que nosso cérebro recupera as energias e o desgaste ocorridos durante o dia. Outras providências a serem tomadas são: fazer uma atividade física regularmente, reduzir o peso (caso esteja elevado), dormir de lado, eliminar a cafeína após as 16h, eliminar o fumo e bebidas alcoólicas. Se tiver apnéia, é importante consultar um especialista do sono. – TDAH (DDA) com Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) Se o indivíduo com TDAH (DDA) preocupar-se em demasia com o que esqueceu, com coisas que podem estar fora do lugar ou perdidas, com futuros erros em função de sua distração, pode desenvolver comportamentos ritualísticos de verificação, pensamentos repetitivos que não consegue filtrar, obsessivos e desenvolver o TOC. Os sintomas desse transtorno são mais visíveis, podendo mascarar o TDAH (DDA). Há vários tipos de obsessões: – Por contaminação (lavam as mãos muitas vezes, tomam vários banhos, por medo de contaminação etc.) – Por simetria (tudo “naquele determinado lugar”, perfeitamente alinhado) – Por ordem (perfeccionismo e limpeza) – Por armazenar (não se desfazem de nada, tudo que vêem compram porque “um dia podem precisar”) – Religiosa (a responsabilidade da sua vida é baseada em suas crenças religiosas, querem converter a todos etc.) – Sexual (sexo ou masturbação compulsivos) – Ritualística (só entram e saem pela mesma porta, verificam várias vezes trincos e fechaduras, preocupados se os esqueceram abertos, podem tornar-se supersticiosos etc.) – Por agressividade (quando acreditam estarem sendo atacados e/ou perseguidos) Não é incomum o portador de TDAH (DDA) desenvolver traços obsessivos para lidar melhor com suas distrações, esquecimentos, impulsividades, desorganização, tornando-se meticuloso e muito crítico. Quando há pequenos traços obsessivos de perfeccionismo, estes acabam ajudando o indivíduo a ter maior disciplina, a lidar melhor com suas distrações, esquecimentos e desorganizações, embora aumente sua ansiedade e a cobrança que faz dos outros. – TDAH (DDA) com Fobia Não é difícil que o indivíduo com TDAH (DDA) sinta-se inadequado: geralmente tem medo de cometer gafes, de ser criticado, gozado… a dificuldade com a linguagem, os “brancos” que podem ocorrer, fazem com ele recolha-se com medo de ser ridicularizado, podendo desenvolver a fobia social, isto é um medo imenso de interações sociais, principalmente quando tem que expor-se como por exemplo, falar em público. Esse transtorno pode levá-lo a desperdiçar todo seu potencial ao esconder-se “do mundo”. Podem acontecer também fobias específicas por situações e/ou objetos: medo de elevadores, de aviões, tempestades, ferimentos, sangue, certos animais… Semelhanças entre TDAH (DDA) e Personalidade Boderline Personalidade Borderline é aquela que fica entre a neurose e a psicose. Esse tipo de indivíduo tem um senso interior de si muito fraco. São ávidos por relacionamentos com desejos de praticamente fundir-se com o outro, sem muita noção de limites, entretanto terminam relacionamentos de forma abrupta e fogem de qualquer tipo de intimidade. Têm longos períodos de grande sofrimento psíquico, cheios de medo e depressão.Com freqüência sentem impulsos suicidas, mas geralmente suas tentativas não terminam em morte, servindo apenas para um alívio interno. O ato de cortar os pulsos ou fazer vários cortes na pele, por mais doloroso que seja, faz com que sintam-se aliviados dos maus sentimentos conforme o sangue se esvai. Essas pessoas relatam não sentir dor. Têm uma sensação de que serão esmagados. Um dos sentimentos primários é o ódio. São extremamente sensíveis à rejeição, envolvem as pessoas próximas em seus dramas pessoais e as classificam em boas e más. Não há meio termo. É comum aliviarem seus sofrimentos com drogas e/ou álcool. Suas vidas são caóticas, sofridas, imprevisíveis e muitas vezes trágicas. Podemos encontrar várias semelhanças entre a personalidade Borderline e as características do TDAH (DDA): o senso interior de si do TDAH (DDA) é distraído e fragmentado; rompe abruptamente relacionamentos; sai de sintonia em momentos onde isso não é esperado; busca estímulos fortes para concentrar-se (não para aliviar-se de sentimentos dolorosos como no caso Boderline). Os dois transtornos são marcados pelo alto grau de impulsividade. A pessoa com TDAH (DDA) devido à constante frustração de não conseguir fazer as coisas direito, também carrega em si muita raiva e sentimento de rejeição, e uma tendência a isolar-se. Em ambos os transtornos há muita instabilidade de humor, baixo rendimento do seu potencial e o abuso de substâncias geralmente é usado como automedicação para alívio dos seus sintomas. Há registros de pacientes diagnosticados como Boderliners que na verdade têm inicialmente TDAH (DDA). O tratamento é bem diferente nos dois casos, daí a grande importância do diagnóstico correto. Índice de algumas comorbidades em adultos: Depressão – 20 a 30% Transtorno de ansiedade – 20 a 30% Uso de substâncias – 25 a 50% Tabagismo – 40% Distúrbio alimentar – 20 a 30% Transtorno de personalidade anti-social – 25% Transtorno de sono – 75% – Tipo Combinado É necessário que a pessoa tenha 6 ou mais características de cada um dos 2 tipos acima, para haver possibilidade de diagnóstico de TDAH (DDA).

Diagnóstico de TDAH

Apesar do quadro desalentador onde a pessoa muitas vezes é considerada desorganizada, agitada, maníaca, imprevisível, irresponsável, desnorteada, lunática… quanto mais cedo for diagnosticada e tratada mais facilmente aprenderá a conviver com o TDAH (DDA) de maneira mais positiva e menores serão os problemas com a auto-estima e auto-confiança, normalmente tão comprometidas. O adulto deve procurar a ajuda de profissionais especializados na área para diagnóstico e tratamento, quando seu jeito de pensar, de sentir, comportar-se, causam-lhe prejuízos na área profissional, social, afetiva e/ou consigo mesmo. As crianças e adolescentes devem ser encaminhados pelos pais e ou professores quando há dificuldade no aprendizado, no relacionamento interpessoal (em casa, com professores, com amigos), ou quando surgem outros problemas que podem ser decorrentes do TDAH (DDA) tais como, baixa auto-estima, irritabilidade excessiva, obesidade, comportamento compulsivo etc. Infelizmente, ainda há muitos diagnósticos errados nessa área em função do desconhecimento do transtorno por muitos profissionais da saúde que acabam tratando apenas das conseqüências, das comorbidades, desconhecendo a origem dos problemas. O diagnóstico não se baseia apenas na presença dos sintomas mas em sua gravidade, intensidade, duração e em quanto interferem na vida cotidiana da pessoa.

Tratamento

Após o diagnóstico, o tratamento abrange muita informação e conscientização do que é TDAH (DDA), psicoterapia estrutural e organizadora, terapia familiar ou de casal quando necessário. Comprovadamente a terapia cognitiva comportamental é que dá melhores resultados. O terapeuta deve funcionar como um treinador, dando instruções e sinalizando (“perceba como está se perdendo em detalhes… como está desviando de seu objetivo…, pare, volte àquele assunto…”) O foco da terapia deve ser a mudança de velhos hábitos que já se tornaram vícios: adiamento crônico, desorganização, pensamentos negativos… além do resgate da auto-confiança e da auto-estima, geralmente muito abaladas. A medicação muitas vezes pode melhorar muito a qualidade de vida da pessoa. No Brasil, a primeira indicação é do estimulante do córtex pré-frontal, o metilfenidato, com nome de Ritalina ou Concerta. Ele funciona como óculos para o míope: devolve a visão focada, mais nítida. Também ajuda a controlar a compulsão. Há muita desinformação e enxurradas de falsos rumores envolvendo o metilfenidato. Esses boatos alarmantes não são baseados em fatos nem em centenas de pesquisas científicas que comprovam ser um medicamento extremamente seguro quando administrado com supervisão adequada. A medicação pode não funcionar sempre, mas em 80% dos casos ajuda a pessoa a concentrar-se, a terminar suas tarefas sem interrupções, reduzindo a ansiedade, a impulsividade, a irritabilidade e as oscilações de humor. O uso do estimulante é fundamental quando há problemas de aprendizado e/ou decréscimo na capacidade profissional. No entanto, ela sozinha não faz milagres, nem cura o transtorno. A Ritalina e/ou Concerta não vicia mas pode acontecer alguns efeitos colaterais que em geral passam após os primeiros dias. A dosagem varia de indivíduo para indivíduo e seu efeito dura aproximadamente 4 horas. Se o TDAH (DDA) vier acompanhado de depressão, muitas vezes é necessária a inclusão de medicação antidepressiva mas é comum a depressão desaparecer apenas com o estimulante e psicoterapia, na medida em que os sintomas de TDAH (DDA) vão sendo administrados, controlados e a pessoa readquire seu controle interno.

Benefícios

Hiperfoco

Na verdade no TDAH (DDA) não há déficit de atenção e sim, uma inconstância na atenção: a pessoa com TDAH (DDA) costuma ter um hiperfoco em tarefas nas quais há motivação e/ou desafio.

Criatividade

O indivíduo com TDAH (DDA) está geralmente distraído, ocupado com estímulos de todas as direções, gerando um pensar caótico, sem prioridades. Muitas vezes faz drama por pequenas coisas: é a chamada mente hiper-reativa: a pessoa pode até parecer calma externamente mas por dentro há sempre um turbilhão de idéias, de sentimentos dominando-a.

Esse pensar bombardeado por mil idéias, já é natural no indivíduo, já faz parte dele. Apesar de todo desgaste que esse caos provoca, pode ajudá-lo no processo criativo e dele podem surgir muitas idéias inovadoras. A impulsividade e hiperconcentração (vindas da motivação) geram muita energia que pode levá-lo à concretização da criação.

É fundamental que as pessoas aprendam a canalizar sua energia criativa, colocando-a em prática. Muitas passam a vida inteira tentando, outras conseguem.

Fonte:

Cleide Heloisa Partel é arquiteta, profissão na qual trabalhou por 10 anos. Ao descobrir sua verdadeira vocação cursou psicologia, graduando-se em Terapia Cognitiva Comportamental, Familiar Sistêmica e Adolescente. Fez diversas especializações dentre as quais Neurolingüistica, Análise Transacional e Transpessoal.

Trabalhando com psicóloga clínica, descobriu-se portadora de TDAH no final dos anos 90, e sentiu o mesmo que Edward Hallowell (especialista em TDAH, autor de Tendência à Distração): “- Então é isso que eu tenho!”

Após grande alívio por entender porque “funcionava de forma diferente”, mergulhou a fundo nos estudos do transtorno, tornando-se especialista em TDAH e suas comorbidades tendo sempre como objetivo o resgate do equilíbrio e da auto-estima.

 
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